
fui um bebê normal, sem dobras mas fofinha, como podem ver na foto acima - eu com três meses, meu irmão com quatro anos e minha mãe -, me tornei uma menina muito magra, de dar dó,

eu sempre nadei, por conta das crises de asma, meu pediatra indicou a natação como fisioterapia respiratória e daí nasceu uma campeã. competia em torneios e tenho incontáveis medalhas em casa. nadei pela AABB, Banorte e pelo colégio que estudava. fiquei com corpo de nadadora mesmo, nos meus 15 anos estava no auge da forma física e ainda fazia ginástica olímpica, outro esporte que amo! enfim, eu comia bem, mas me exercitava muito.


apartir dai começou toda a minha saga. eu não dormia a noite, passava o tempo todo vendo tv e comendo, comendo, comendo. naquela época ninguém falava em compulsão alimentar, muito menos em bulemia, que adquiri menos de um ano depois. ganhei mais dez quilos depois que ela faleceu, totalizando o peso de 90kg. vivia vendo tv, comendo, chorando e comendo. até que eu levei pau no vestibular da federal daqui de PE e entrei num cursinho pré-vestibular. o mais badalado de recife, cheio de patricinhas com roupas lindas e corpos igualmente perfeitos, canetas cor de rosa com peruca cor de rosa choque, fichários da milk e cadernos da chipie. eu não era diferente (a tirar pelo corpo) e não sei como, mas comecei a vomitar o que comia, e quando comia. eu só me alimentava a noite! só a noite, que depois foi explicado que também é um tipo de compulsão. eu ia dormir as 4hrs da manhã e acordava aomeio dia, pra ir a aula. não almoçava e nem tomava café, minha primeira refeição no dia era por volta das 16hrs, no último intervalo das aulas. comia sempre um salgado, um refri e de sobremesa torta entupida de chocolate. vomitava tudo no próprio banheiro da escola, e me sentia bem assim. quando chegava em casa jantava com papai - que se tornou pai&mãe da melhor qualidade que se pode existir -, mas em seguida vomitava escondido. só de madrugada que comia miojo ou algo assim, era a única refeição que parava na minha barriga, e sendo assim, emagreci 20kg de um dia pro outro. emagreci tanto que as pessoas achavam que eu estava doente; e no fundo estava mesmo, mas até então ninguém sabia o que eu fazia. papai me mandou para terapia, achando que eu tinha depressão e que por isso estava magra daquele jeito. todo mundo me via comendo e não entendiam como eu poderia estar tão magra, chegaram a pensar em leucemia e coisas do tipo. nem a psicóloga desconfiou, nunca contei nada a ninguém sobre os vômitos... até que um dia eu desmaiei em casa. papai me levou pro hospital e eu passei uma noite lá. a médica ficou desconfiada quando papai disse que eu perdi mais de 20kg em poucos meses, dai ela me perguntou em segredo se eu vomitava, eu me surpreendi com a pergunta dela, sei lá, nem eu fazia idéia que aquilo era doença, por fim admiti!
ela me encaminhou a um tratamento e depois de um ano eu fiquei livre da bulemia, mas em contra-partida fiquei obesa. continuava com os corticóides e comendo como uma praga, sem me exercitar. não queria mais nadar, nem nada! ainda tinha depressão para vencer. e assim se passaram os anos, eu engordando, engordando. meu fígado adoeceu por conta dos corticóides e em 2007 eu recebi a proposta do meu cirurgião para fazer a redução. demorei um ano para encarar essa proposta realmente, mas acredito que aconteceu no momento que tinha que acontecer mesmo, no caso em nov. de 2008. hoje estou com 2 meses e 7 dias de operada, ainda faltam 10kg para a minha meta, mas 20kg já se foram. outro dia tive a minha consulta de revisão de cirurgia, a dos 60 dias de operada, e estou bem, o figado já apresenta melhoras... o mais difícil mesmo é vencer a compulsão, é uma luta diária comigo mesma, com a minha mente. perco uns dias e ganho em outros, mas estou vencendo até agora. e tenho certeza que minha mãe, esteja aonde estiver, está torcendo por mim e me ajudando para que eu tenha uma vida saudável, porque feliz eu já estou, apesar da falta imensa que ela me faz. mamãe foi a maior lição de vida que tive, sabe aquela música "é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã"? assim foi com nós duas, vivemos intensamente uma pra outra e não tenho arrependimentos, apenas saudades, muitas saudades...
obrigada mãe, por tudo!
saudades de sua filha querida, bibi.